Descartes deu o mote. A filosofia deste deste espaço é antes de mais dedicado ao sonho, às duvidas existênciais à escrita e ao prazer da leitura, um blog onde a actualidade não pode deixar de estar presente.




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Discurso Cordão Humano para Salvar a casa de Aristides de Sousa Mendes

Momento zero da luta para se conseguir reconstruir a Casa em ruínas e a memória de ARISTIDES DE SOUSA MENDES sem esquecer que o trabalho apenas começou e que ainda teremos muito trabalho pela frente e vejo que a máquina abrandou, para não dizer parou e vai ser preciso novo impulso para a colocar de novo em andamento




PRESTIGE NUNCA MAIS!
Monumento aos 300.000 voluntários anónimos que ajudaram a limpar a maior maré negra da Península Ibérica  provocada por um petroleiro que se afundou em 2002 ao largo da costa. Uma tragédia ambiental sobretudo em Espanha mas também em Portugal e no Sul de  França, algo sem precedentes que levou milhares às costas galegas para ajudar a remover o petróleo que matou milhares de aves, peixes e danificou irreversivelmente a natureza com milhares de toneladas de poluente derramado, conspurcando uma vasta àrea de rara beleza.
Como pode acontecer tal desastre e de tal magnitude? Que garantias temos de que não volta a acontecer?

Levantou-se de alerta: "PRESTIGE " NUNCA MAIS!" Porém infelizmente nada nos garante que isso seja efectivamente verdade e que não possa voltar a acontecer de novo. Deixo-vos com as imagens que fiz.



.






O Povo de Ogrove, reconhecido erigiu este momento que marcará para sempre a boa vontade dos milhares de voluntários que anonimamente deram as mãos e ajudaram a limpar as Rias Baixas, com as suas belezas ímpares, pelo seus mariscos e pelas suas  praias lindíssimas repentinamente conspurcadas pelo mancha negra de petróleo que acabou por ficar impune à mercê da sorte, uma vez que as aguas do atlântico continuam a ser utilizadas pelos grandes petroleiros. Escultura da autoria do escultor Galego Óscar Torres e seus escultores colaboradores Carlos Fernandez, Álvaro Lema, Roberto Rego e Pablo Malvar que nos lembram sempre que isto não pode nem deve voltar a acontecer.



(...é deste paraíso, que vos falo...)













Ficam aqui alguns registos do que se passou... para memória futura:  
DEMISSÃO NO MÍNIMO!


EMBAIXADOR PORTUGUÊS NA ARGENTINA, TRAVA HOMENAGEM A ARISTIDES DE SOUSA MENDES, tal e qual... lamentável este comportamento justamente vindo dum embaixador, um verdadeiro escândalo uma vergonha.

Parabéns ao Expresso e ao Jornalista Márcio Resende pela denuncia.
Um abraço para o amigo Victor Lopes pelo seu fantástico projecto, que ainda não morreu.
Partilhem isto por favor.
Ver noticia em: http://expresso.assineja.pt/V/primeiro/2233/…

A Capela Sistina é sem dúvida um dos maiores tesouros da Humanidade, onde o génio de Miguel Ângelo deu largas à sua criatividade, numa obra verdadeiramente ímpar. Aqui deixo este pequeno vídeo assinalando a minha passagem e a emoção que senti perante aquele fantástico tesouro; um dos maiores da Humanidade.



Pelas tradições e costumes dum povo, se vê a sua verdadeira alma.

 Cortejo Etnográfico de Celorico de Basto - 2014

É realmente emocionante ter o privilégio de poder assistir, aqui fica este belo registo para memória futura. Parabéns a todos
O Professor “Rézinhas” e o 25 de Abril

Há uns tempos reencontrei um meu amigo dos tempos de escola do velhinho Infante D. Henrique e esse encontro reavivou memórias... que quase nos levavam de novo à adolescência. Até porque essa conversa tinha algo a ver com o próximo feriado nacional. Acabamos falando sobre o 25 de abril, dando algum sentido à celebre frase: “Onde é que estavas no 25 de Abril de 1974?”.

E assim perguntei à minha memória, afinal onde é que estava?

Passou mesmo muito tempo, quarenta anos. Passaram rápido… tão rápido que por vezes nem sentimos. Tínhamos na altura talvez treze ou catorze anos de idade, quando aconteceu. Esse dia mudou as nossas vidas, a minha e a de muita gente. Viviam-se tempos nada faceis, anos e anos de sofrimento, guerras e perseguições políticas. Finalmente chegara o dia por que tantos sonharam e pelo qual esperavam, e, que iria mudar a face de Portugal, renovada de esperança aos olhos não só dos Portugueses mas afinal de todo o mundo; foi algo notável até porque quase não se perderem vidas humanas. Apenas com uma vontade férrea de alguns para mudar o que parecia imutável há meio século.

Tudo aconteceu num dia igual a tantos outros, como o de hoje por exemplo num belo dia de primavera, lembro por volta das 11h30m um professor entrou na sala com os cabelos brancos em pé, dirigindo-se à colega que dava a sua aula de Educação Visual, segredando algo inaudível. Todos naquela turma conhecíamos bem quem ele era; aquele velho professor que acabara de entrar que com ar grave nos disse pouco depois para irmos todos para casa, que não haveria mais aulas naquele dia, tinha havido uma revolução.

"Não há aulas... não há mais aulas!" Excelente, fantástico exclamaram num reboliço na sala a maioria, os mais curiosos acercaram-se dele junto à secretaria onde se sentavam os professores para darem as aulas e foram perguntando o que era isso de uma revolução, enquanto a maioria já corria pelos corredores em grande algazarra, gritando... não há aulas, não há aulas!.

Voltando-se para os presentes e com voz embargada e visivelmente emocionado apenas nos disse que tinha acabado a “mordaça” acrescentando uns segundos depois, que apartir dali iríamos ser livres… acrescentando com voz baixa e tremula “...Se Deus quiser…”

Agitação crescente em redor dos dois professores. A professora de Educação visual mantinha o rosto austero e de grande desagrado perante as explicações do colega aos alunos dizendo que não seria bem assim, visivelmente incomodada com o “à-vontade” com que falávamos com ele e ele connosco principalmente sobre um tema tabu proibidíssimo nos tempos que corriam e não compreendia como era possível que o colega se permitia a essas explicações vaticinando sem o esconder, que ele se iria dar mal e que já tinha idade para ter juízo, pegando na bolsa num rompante abandonou a sala saindo a vociferar, ele pouco incomodado com a colega encolheu os ombros e foi acrescentando naquela aula improvisada sobre a Liberdade, coisa que não sabíamos muito bem o que era.

Mas nós não éramos livres? Questionavam-se alguns de nós em surdina.

- Depois vos explico! A partir de hoje jamais será como até aqui… nasceu um novo dia, uma nova mentalidade que fará com que todos possamos dizer o que sentimos sem medos e receios de irmos parar à prisão.

O velho professor foi dizendo entre outras coisas que, “Liberdade é responsabilidade” e que a “minha Liberdade acaba, quando começa a dos outros”, e que muitos se sacrificaram para que aquele dia finalmente pudesse acontecer.

Foi mais uma grande lição daquele grande mestre que jamais poderei esquecer. Professor de uma disciplina que ninguém gostava (matemática...), odiada até por muitos, mas que era na época a cadeira mais fantástica que poderia ter e porquê?

Entre outra coisa que lembro este senhor tinha uma estranha forma de leccionar, ensinava os alunos a copiar (para os testes dele e dos outros professores) mas dizia que, o poderíamos fazer desde que ele não visse, mas nos dias dos pontos ficava normalmente sentado lendo ou preparando a aula seguinte, impondo silêncio para que não nos distraíssemos e copiássemos bem, dizia que enquanto preparávamos as cábulas estávamos a aprender, passávamos horas e horas a fazer “copianços” longos e extensos, usávamos a criatividade, a fama dele era grande o que fazia com que não fosse muito bem visto pelos seus colegas que não achavam grande graça ao método, achávamos aquele professor fantástico e era mesmo! É o único de quem me lembro o nome e foi o único professor que tive com quem aprendi mesmo matemática o resto são conversas.

Com isto do professor Rézinhas, quase esqueci de falar no 25 de Abril e que para haver Liberdade, é preciso quebrar algumas regras e ele quebrou-as e com êxito, ainda o lembro passados todos estes anos, é fantástico. Liberdade com responsabilidade... como ele muito bem dizia!

António Gallobar
Olá a todos, chegou-me por e-mail mais esta preciosidade referente ao malfadado Acordo Ortográfico
E mesmo o acordo do desacordo e que afinal nem os Brasileiros querem (ver post mais antigo)





Queixas do Acordo Ortográfico

O novo acordo ortográfico é mais uma prova da imbecilidade desta gente
que governa Portugal nos últimos 3 decénios!

Nos nossos sete, oito e nove anos tínhamos que fazer aqueles malditos ditados que as professoras se orgulhavam de leccionar. A partir do terceiro erro de cada texto, tínhamos que aquecer as mãos para as dar à palmatória. E levávamos reguadas com erros destes: "ação", "ator", "fato", "tato", "fatura", "reação", etc, etc... Com o novo acordo ortográfico, voltam a vencer-nos, pois nós é que temos que nos adaptar a eles e não ao contrário. Ridículo...

Mas, afinal de onde vem a origem das palavras da nossa Língua? Do Latim!!! E desta, derivam muitas outras línguas da Europa. Até no Inglês, a maior parte das palavras derivam do latim.

Então, vejam alguns exemplos:

Em Latim
Em Francês
Em Espanhol
Em Inglês
Até em Alemão, reparem:

Velho Português  (o que desleixámos)
Novo Português (importado do Brasil)

Actor
Acteur
Actor
Actor
Akteur

Actor
Ator

Factor
Facteur
Factor
Factor
Faktor

Factor
Fator


Tact
Tacto
Tact
Takt

Tacto
Tato

Reactor
Réacteur
Reactor
Reactor
Reaktor
Reactor

Reator

Sector
Secteur
Sector
Sector
Sektor

Sector
Setor

Protector
Protecteur
Protector
Protector
Protektor

Protector
Protetor

Selection
Seléction
Seleccion
Selection

Selecção
Seleção

Exacte
Exacta
Exact

Exacto
Exato

Excepté
Excepto
Except

Excepto
Exceto

Baptismus
Baptême
Baptism
Baptismo

Batismo

Exception
Excepción
Exception

Excepção
Exceção

Optimus
Optimum
Optimum

Óptimo
Ótimo

Conclusão: na maior parte dos casos, as consoantes mudas das palavras destas línguas europeias mantiveram-se tal como se escrevia originalmente. Se a origem está na Velha Europa, porque é temos que imitar os do outro lado do Atlântico?

Mais um crime na Cultura Portuguesa e, desta vez, provocada pelos nossos intelectuais da Língua de Camões.

Circulem este e-mail até chegar aos intelectuais que fizeram este acordo. Pode ser que eles abram os olhos.

 Ex.:
Será que fui de fato à praia?

....Na tourada, estavam 2 espetadores!

....Eu trabalho numa seção com 5 colegas!  etc, etc.

PS: Porque se escreve Egito se os naturais desse país são Egípcios? (Eu pessoalmente digo Egipto)
Ainda não percebi se com o novo acordo ortográfico os Polacos também passaram a ser Poloneses e os Canadianos agora são Canadenses, como se diz nas Terras de Vera Cruz…

Inovações sim , mas sem exageros e com coerência!!!



Autor desconhecido




Cidade do Porto eleita como o "Melhor Destino Europeu 2014"

Publicado às 14.18

, atualizado hoje às 14.34 JN

 
 
foto LISA SOARES/GLOBAL IMAGENS
Cidade do Porto eleita como o "Melhor Destino Europeu 2014"
Cidade do Porto mais uma vez distinguida
 

A cidade do Porto foi eleita esta quinta-feira como o "Melhor Destino Europeu 2014", um galardão atribuído anualmente pela "European Consumers Choice", uma organização independente e não lucrativa, com sede em Bruxelas.
O Porto sucede assim a Istambul, Turquia, que venceu o concurso o ano passado, com Lisboa a ficar em segundo lugar.
Olá queridos amigos, hoje reparto aqui com todos um texto que me enviaram, excelente sobre o conhecimento filosófico.  Coisas destas não devem ficar fechadas em gavetas.

A Palavra "Filosofia"

Mario Bruno Sproviero



     A palavra que hoje universalmente designa este saber que é a filosofia, é de cunho grego: philosophia "amor à sabedoria". Atribui-se a Pitágoras a composição do nome. Para este tema é essencial considerar os textos de Cícero e de Diógenes Laércio, ambos citando Heráclides Pôntico, discípulo de Platão. Por outro lado, é interessante aprofundar-se no processo de transição do que se chamava sabedoria para o que se veio a designar por filosofia. Após a tradução de alguns textos, teceremos alguns comentários sucintos.

Cícero

     Cícero nasceu em Arpino no Lácio, em 106 a.C. A obra que citamos: Tusculanarum Disputationum (Discussões de Túsculo), foi completada provavelmente em 44 a.C., ano da morte de César. A especulação filosófica de Cícero, sexagenário, foi motivada não só pela maturidade intelectual do pensador como também pela particular situação em que se encontrava: além da morte da filha que o atingira profundamente, deveu-se à ditadura de César que o afastou completamente da atividade política. Morreu assassinado pela guarda pessoal de Marco Antônio em 7 de dezembro de 44 a.C., em sua residência de Fôrmia.
     Cícero foi grande filósofo além de grande orador. Havia feito um profundo estudo da filosofia grega e de sua literatura: percorreu na Grécia todos os centros intelectuais. Foi ardoroso admirador dos filósofos gregos, principalmente de Platão(1).
     Foi o primeiro dos latinos - ele mesmo se gloria disto - que expôs em língua latina todas as doutrinas dos filósofos de Atenas. Aprendeu dos Gregos não só através dos livros - e dispunha de obras que depois foram perdidas - mas em suas escolas: suas obras filosóficas constituem o repertório mais completo e sólido, o compêndio mais abrangente de todos os sistemas da filosofia grega. É curioso que, a partir de certo momento da filosofia moderna(2), tenha sido, juntamente com os autores latinos, quase que excluído do estudo da filosofia: há um verdadeiro preconceito anti-romano(3). Ainda até Kant, Cícero é considerado uma autoridade fundamental; depois, houve a tendência a reduzir a filosofia aos gregos e alemães. Mesmo para os que - e é um fato incrível! - não o consideram filósofo, constitui grave erro metodológico estudar a filosofia grega ignorando seu testemunho: a própria discussão do significado de filosofia - de que nos ocuparemos a seguir - constitui prova cabal da necessidade de recorrer ao legado de Cícero.
     Passemos então ao texto - decisivo como uma fonte primária - para a compreensão originária do significado da atribuição do nome filosofia.

Texto de Cícero (Tusculanarum Disputationum, livro V, III).

A filosofia remonta, como todos sabem, aos tempos mais antigos, apenas sua denominação é que é recente. Quem, pois, negaria que não só a sabedoria, bem como seu próprio nome, sejam coisas antigas? Este sublime nome junto aos antigos destacava sua aspiração ao conhecimento das coisas humanas e divinas, e das causas de todas as coisas. Assim aqueles sete que os gregos chamaram sophoí(4) e nós, os romanos, reconhecendo-lhes o mérito, chamamos Sapientes, e muitos séculos antes, aquele notável Licurgo(5)- tendo vivido na época de Homero, e portanto anterior à fundação de Roma, ou talvez ainda anteriormente, na idade heróica de Ulisses e de Nestor - foram tradicionalmente tidos por sábios. Na verdade, nomes como Atlas sustentando a abóbada celeste, Prometeu encravado no Cáucaso, Cefeu(6)elevado às estrelas com mulher, genro e filha, são enganosas fabulações com nomes de homens dotados de divinos conhecimentos sobre o céu(7). Em seguida todos aqueles que seguindo a estes, dedicavam-se acuradamente à contemplação das coisas, foram considerados e chamados sábios, nome que continuou a usar-se até os tempos de Pitágoras. O doutíssimo discípulo de Platão, Heráclides Pontico(8), narra que levaram a Fliunte(9) alguém que discorreu douta e extensamente com Leonte(10), príncipe dos fliúncios. Como seu engenho e eloqüência tivessem sido apreciados por Leonte, este perguntou-lhe que arte professasse, ao que ele respondeu que não conhecia nenhuma arte especial, mas que era filósofo. Admirado Leonte diante da novidade daquele termo, perguntou que tipo de pessoas eram os filósofos e o quê os distinguia dos outros homens. Pitágoras respondeu então que a vida humana, segundo ele a via, era comparável a uma daquelas panegírias em que se realizavam esplêndidos jogos, com o afluxo de celebridades de toda a Grécia: alguns ambicionavam, depois de intensos exercícios físicos, à glória e nobreza de uma coroa; outros eram atraídos por motivos de ganho em transações comerciais; havia, porém, também algumas pessoas que, pelo contrário, não visavam nem aplausos nem ganhos, que haviam lá chegado tão somente para serem espectadores e contemplarem o espetáculo em sua natureza e execução. Outrossim, os homens que a esta vida chegam após outra existência de diversa natureza, comparam-se com os que vão da cidade a uma festa popular: alguns vão em busca de glória enquanto outros de ganho, restando, todavia, alguns poucos que desconsiderando completamente as outras atividades, investigam com afinco a natureza das coisas: estes dizem-se investigadores da sabedoria - quer dizer filósofos - e como é bem mais nobre ser espectador desinteressado, também na vida a investigação e o conhecimento da natureza das coisas estão acima de qualquer outra atividade.

Diógenes Laércio

     No famoso escritor Diógenes Laércio, do qual não se sabe nada de sua vida, nem onde e quando nasceu, apenas é possível dizer que viveu na metade do III século d.C., encontramos em sua obra: Vida dos Filósofos, dois trechos referentes ao mesmo assunto.
Primeiro Texto (Proêmio, 12).

O que tratamos até agora refere-se à invenção da filosofia. Quanto a seu nome, foi Pitágoras o primeiro a usar o termo filosofia como também a chamar-se filósofo. Como atesta Heráclides Pôntico em sua obra: Sobre a Mulher Esvaecida (frag. 87 Wehrli), foram estas as palavras de Pitágoras ao discorrer em Sicione com Leonte, tirano dos siciônios ou dos fliúncios: "Ninguém pode dizer-se sábio a não ser Deus". Anteriormente usava-se o termo sabedoria e era considerado sábio quem a professava e destacava-se no cultivo consumado da alma; filósofo era então o que acolhe a sabedoria. Os sábios chamavam-se também sofistas; e não só os sábios, mas também os poetas.

Segundo Texto (Livro VIII, 8)

Sosícrates em sua obra: A Sucessão dos Filósofos (fr. 17 Müller), diz que Pitágoras foi interpelado por Leonte, tirano de Fliunte: "Que és?" E a resposta de Pitágoras foi: "Filósofo!". Pitágoras costumava comparar a vida a uma panegíria: nesta alguns participam como lutadores, outros como comerciantes, e outros ainda - os melhores! - como espectadores; assim é também na vida: alguns nascem escravos da glória; outros são caçadores do ganho; outros por fim, os filósofos, são ávidos da verdade.

Comentários

1- A figura de Pitágoras é historicamente bastante problemática. Representa um ideal do qual estamos distantes, qual seja, o da união entre ciência, filosofia e religião. Interessante, porém, é destacar como a moderna historiografia da filosofia, principalmente a alemã, diminui o alcance desta figura. Curiosamente a apreciação dos filósofos gregos na época greco-romana é oposta à dos tempos modernos. Que autor teve na época helenística tantas biografias quanto Pitágoras? Figuras como as de Heráclito e Demócrito - tão exaltadas pela historiografia alemã - eram desprezadas na Antigüidade. Por exemplo, o comentário de Timeu - junto ao fragmento 81 de Heráclito:

Entre outros, Timeu chamou charlatanice à técnica de falar capciosamente, escrevendo assim: "Fica, pois, claramente estabelecido que Pitágoras não é o inventor de trapaças: a respeito da verdade, ainda quando seja acusado por Heráclito: este é, ele mesmo, um impostor. (Scholia in Euripidis Hecobeu 131 ).
     Mas o argumento mais importante é o de que os historiadores não considerem que Platão, depois de sua viagem à Itália(11) decidiu abrir uma escola e, claramente, nos moldes pitagóricos. Assim seria preciso perguntar qual das escolas dos pré-socráticos se assemelha, mesmo que longinquamente, à Academia em sua organização. Antes da Academia só houve uma única escola verdadeira, a pitagórica: a Academia colocou-se como herdeira depois das tentativas falidas em Tebas e Fliunte. A falsificação deste dado é uma das maiores mistificações da história da filosofia. Na Academia não poderia entrar o ageométretos (aquele que ignora a geometria), o que era bem distante do espírito de Sócrates, e era a própria essência do pitagorismo. Todas as outras escolas posteriores foram organizadas segundo o modelo da Academia: o Liceu, a Stoa, a Alexandrina, e através da Idade Média, a nossa tradição universitária(12).
2 - A primeira coisa que nos chama a atenção no texto de Cícero é que a filosofia enquanto atividade remonta aos tempos mais antigos. É claro que sendo uma atividade segunda, uma reflexão radical sobre a vida e suas circunstâncias, é inseparável do homem: certamente não em todos os momentos de sua existência - principalmente nas situações limites -, não de modo sistemático, muito menos por escrito, mas própria do homem em sua situação existencial. A filosofia como atividade cultural, sistemática, "profissional", é bem posterior: tem seu início, tem sua história. Não deixa de ser significativo e relevante a cunhagem do nome. Não encontramos equivalente deste nome em nenhuma outra cultura, embora sim sejam freqüentes termos equivalentes a 'sabedoria' e 'sábio'.
     Também a sabedoria entendida como saber bem viver, saber bem ordenar, saber bem governar, é própria do homem; no entanto, o termo "sabedoria", a exaltação cultural da sabedoria é historicamente condicionada. Justamente a chamada época axial (Jaspers), que media aproximadamente entre os séculos VII e III a.C., é por excelência a época da sabedoria: as sociedades humanas são sempre mais complexas, começam os impérios com sua idéia fundamental de unidade do homem; a organização política da sociedade é sempre mais problemática. Não é por acaso que surgem nessa época grandes revoluções religiosas: Zoroastro na Pérsia, Buda na Índia, Confúcio e Laozi na China, os profetas em Israel, Pitágoras na Grécia etc. Eram sábios os políticos, os organizadores da pólis: os sete sábios, o rei Salomão. Também a reação contra essa complexificação da sociedade leva a grandes contestações, por exemplo: o Eclesiastes e Laozi na China: a sabedoria é vaidade, pelo menos a sabedoria humana. Surge o contraste com a sabedoria divina.
     Independentemente do caráter de humildade perante o saber, o que vai diferenciar a sabedoria da filosofia é que a primeira nunca perde seu caráter prático: o saber, a verdade é fundamental para a vida, para o bem, para a Salvação. A primeira sentença de Confúcio nos Analetos diz claramente que o saber se realiza apenas quando se o coloca em prática: Laozi no segundo capítulo de seu livro recusa formalmente o saber pelo saber, o pensar pelo pensar: o pensamento não deve abstrair da realidade: só o pensamento concreto, fora o pensamento abstrato(13).
     A contemplação do saber pelo saber, o chamado pensamento teórico, a teoria, é próprio desta passagem. Acrescente-se a isso o conceito de lei, comum ao homem e à natureza, e teremos outra característica distintiva, que culmina no conceito de lógica como a determinação das leis do pensamento, diferente da retórica e da gramática, estas sim comuns a outras culturas.
3- O segundo aspecto que notamos no texto de Cícero é que Pitágoras, já no início da história da filosofia, disse que não professava nenhuma arte em particular, não era especialista em nada, ou que era especialista em generalidades, como até hoje depreciativamente se diz. A polimatia (o saber vasto e variado) de Pitágoras já havia sido criticada por Heráclito: "A polimatia não ensina a ter compreensão. Daí que a tivessem ensinado Hesíodo, Pitágoras, Xenófanes e Hecateu" (Her.frag. 40). No entanto, a filosofia é necessariamente polimatia, como afirma Whitehead: Philosophy asks the simple question: 'What is it all about?' e busca 'to conceive a complete fact'.
4- Também a humildade do filósofo é salientada. Os que se chamavam sábios haviam se transformado em mercadores do saber. Este aspecto está bem mais saliente no primeiro trecho de Diógenes Laércio: "Ninguém é sábio senão só Deus". Não sabemos nada da vida de Diógenes Laércio; apesar de já estarmos na era cristã não há traços de cristianismo e nem mesmo de neoplatonismo em sua obra. Porém, era um tema fundamental da época, como se pode ver em 1 Co 1, 17-25; 3, 18-20. No entanto, não deixa de ser irônico constatar que posteriormente a filosofia - tanto em seu ciclo greco-romano (de Platão a Plotino) quanto moderno (de Descartes a Hegel e Nietzsche e epígonos) - pautou-se sempre por uma recusa completa de qualquer sabedoria divina: a filosofia pretende ser a sabedoria exclusivamente humana enquanto o forjador da palavra aponta ao amor que se deve à sabedoria divina. Trata-se, portanto, de algo mais do que a humildade de quem sabe que ignora: é a busca ardorosa do amante.
5- À comparação da filosofia à vida e desta ao teatro é também muito sugestiva. A panegíria entre os gregos era uma grande assembléia festiva, era um mercado em que havia espetáculo e comércio. O teatro é o lugar da visão: deveríamos aprender a ver, a contemplar.
     Nesse sentido, o ativo filósofo contemporâneo octogenário, Julián Marías, em artigo recente, "Jerusalém" ("O Estado de S. Paulo", 10\5\98), em que descreve um symposion de intelectuais naquela cidade, diz: "Eu me atreveria a fazer objeções a alguns companheiros dessa reunião que sabiam demais, haviam acumulado imensa e seleta erudição, análises de textos e comentários, talvez em detrimento de algumas horas de mero pensamento, de esforço para se pôr diante da realidade e ‘ver’".
     Ora, o teatro grego que, como atividade social institucionalizada, precede a filosofia, havia chegado a um impasse: o drama, isto é, a ação humana quando livre e abandonada apenas a suas próprias forças, é trágica, isto é, leva à sua ruína. É neste momento que começa a se institucionalizar a filosofia. Daí que ao lado do tradicional estabelecimento daadmiração como princípio do filosofar (a admiração diante da existência, como um efeito do qual não se conhece a causa), deve-se afirmar outra causa fundante da filosofia: a tragicidade da vida: é preferível atuar na vida como espectador e não como protagonista. É um retirar-se da vida para porém observar a própria vida, ou talvez, antes de viver, observar; antes de agir, contemplar. Admiração exprime a vaga percepção do mundo como criado e a concomitante procura do Criador; a contemplação da tragicidade da vida revela sua situação existencial, de criatura feita ex nihilo.
6- O último aspecto que notamos é o amor. Algo que esteve sempre ausente do que se entende por filosofia em sentido estreito. Como nos disse Julián Marías(14), é no cristianismo que se dá interpretação pessoal da existência, a interpretação pessoal de Deus, em que Deus é Amor. Não deixa de ser significativo que no próprio batismo da filosofia, quando ela recebe o nome, apareça a palavra amor. Ortega ao especular sobre o que é a filosofia, faz notar que sua pretensão tem sido a de ser "amor ao saber, mas que, mais profundamente, deveria ser o "saber do amor". Com o que exprime um profundo anseio do ser humano. No entanto, a filosofia moderna move-se em sentido oposto ao cristianismo, sendo um dos principais fatores da descristianização global. Para realizar este desiderato será necessário desenvolver em todas as suas dimensões a interpretação pessoal da existência: é pelo amor que se chega à verdade.
     Em sua forma filosófica, a tese personalista pode ser assim formulada: "O ser é pessoal e tudo aquilo que não é pessoal no ser recai na produtividade da pessoa"(15).


1. Eis um exemplo desta admiração: "Além de tudo, não vejo razão que de per si impeça considerar verdadeira a teoria de Pitágoras e de Platão. Admitamos até que Platão não tivesse aduzido nenhuma prova de suas afirmações: tão somente a sua autoridade - e daí entendes quão grande seja minha admiração por ele - seria suficiente para acabar com qualquer resistência de minha parte" (Tusc. Disp. I,21).
2. Trata-se do conhecido repúdio a tudo que é latino por parte da cultura protestante...
3. Veja-se a respeito a obra de Vincenzo Capparelli, que examina exaustivamente esse preconceito, mostrando inclusive que chega a atingir o próprio Pitágoras, como filosofia "itálica".
4. Os sete sábios eram homens que meditavam os dizeres dos templos donde extraíam a doutrina dos costumes. Também meditavam sobre o homem e a natureza, mas principalmente sobre como reger e governar a sociedade humana, sempre mais complexa. Nesse sentido, um modelo desse tipo de sabedoria é Salomão, o rei sábio. A maior parte dos sete sábios foram homens de Estado: Quílon, êforo de Esparta; Bías, magistrado da Jônia; Pítaco, ditador de Lesbos; Cleóbulo, tirano de Londo; Periandro de Corinto; Sólon de Atenas e Tales de Mileto. Em outras enumerações aparecem Míson, Anacorsi, Epimênides no lugar de Quílon, Cleóbulo e Periandro. São conhecidas suas máximas: Sólon: "Conhece-te a ti mesmo"; Quílon: "Contemple o fim de uma longa vida"; Pítaco: "Conhece a ocasião oportuna"; Bías: "O que é em excesso é mau"; Periandro: "Tudo é possível para quem empreende"; Cleóbulo: "Nada melhor do que moderação"; Tales: "Prometa quando o perigo for iminente". Para aprofundamento, consultar: Plutarco: O banquete dos sete sábios.
5. Licurgo foi o legislador de Esparta.
6. Cefeu foi um rei mítico da Etiópia. Pai de Andrômeda de Cassiopéia, que se casou com Perseu.
7. Exemplo de evemerismo, ou seja, explicação do culto das divindades pela apoteose dos heróis. Os deuses seriam homens divinizados. Atribui-se a Evemerus (Euhemerus, Euemerus), ca. 300 a.C. Foi um mitógrafo grego, conhecido pela sua História Sagrada, um romance filosófico. Sistematizou um método de interpretar os mitos populares, afirmando que os deuses da mitologia popular haviam sido originalmente heróis e conquistadores.
8. Foi discípulo de Platão, Espeusipo e Aristóteles, mas bastante influenciado pela doutrina pitagórica.
9. Fliunte era uma cidade do Peloponeso, onde havia um círculo pitagórico. É significativamente citada logo no início do Fédon de Platão, onde se situa este importante diálogo platônico sobre a imortalidade da alma.
10. Leonte era tirano de Sicione e Fliunte.
11. Uma espécie de Italienische Reise para Platão.
12. Cf. Vincenzo Capperelli - Il Messaggio di Pitagora, vol.1. Edizioni Mediterranee, Roma, 1990, p.309.
13. Hoje é prática e teoricamente impossível pensar concretamente. Concreto vem de concretuscon + crescere, crescer junto. Pensar concretamente seria pensar tudo junto, tudo confuso; para pensarmos devemos tudo distinguir para depois unir abstratamente.
14. Cfr. entrevista publicada nesta edição.
15. Luigi Stefanini Personalismo Sociale. edizioni Studium - Roma, 1979, p.7.

Bibliografia
1. Cicerone, Le Discussioni di Tuscolo, 2 vol. Zanichelli, Bologna, 1990
2. Diogene Laerzio - Vite dei Filosofi. TEA, Roma - Bari, 1991
3. Bruno Snell - La Cultura Greca e le Origini del Pensiero Europeo- Einaudi, 1963.
4. Vincenzo Capparelli - Il Messaggio di Pitagora, 2 vol. Edizioni Mediterranee, 1990.
5. Karl Jaspers Vom Ursprung und Ziel der Geschichte, Piper Verlag, München, 1966.

6. Plutarco - Il Simposio dei Sette Sapienti- Sellereo editore, Palermo 1989.